Um tribunal argentino emitiu mandados de prisão para o chefe da junta militar de Mianmar e ex -funcionários, incluindo o vencedor do Prêmio do Nobel da Paz, Aung San Suu Kyi, sobre o suposto “genocídio e crimes contra a humanidade” visando o grupo minoritário Rohingya.
A decisão do tribunal, vista pela AFP na sexta -feira, foi emitida em resposta a uma queixa apresentada na Argentina por um grupo de defesa de Rohingya.
Foi arquivado sob o princípio da “jurisdição universal”, pela qual os países podem processar crimes, independentemente de onde ocorreram se, como genocídio ou crimes de guerra, forem considerados suficientemente graves.
Os mandados foram emitidos para autoridades militares e civis, incluindo o atual líder da junta Min Aung Hlaing, o ex-presidente Htin Kyaw e o ex-líder civil eleito Aung San Suu Kyi em sua capacidade de “conselheiro estadual” de 2016 a 2021, quando ela foi demitida em um golpe.
Naquela época, ela foi acusada por detratores de fazer pouco para impedir o abuso de Rohingya.
Hlaing também está sob investigação do Tribunal Penal Internacional, enquanto o Tribunal de Justiça Internacional – o Tribunal mais alto da ONU – está examinando uma queixa de “genocídio” contra Mianmar.
Os Rohingyas, principalmente muçulmanos, são originalmente da maioria dos budistas Mianmar, onde, segundo a Anistia Internacional, foram submetidos a um regime semelhante ao apartheid.
A partir de 2017, muitos foram forçados a fugir da perseguição e da violência para a Malásia mais rica e predominantemente muçulmana, ou a campos de refugiados em Bangladesh, onde vivem cerca de um milhão deles.
Mianmar está em turbulência desde o golpe de 2021 que provocou confrontos renovados com rebeldes étnicos e viu a formação de dezenas de “forças de defesa do povo” agora lutando contra a junta.
Em sua decisão divulgada na quinta -feira, a juíza Maria Servini disse que as alegações listadas na denúncia “constituem crimes que violam os direitos humanos reconhecidos em vários instrumentos internacionais de direito criminal, subscritos pela maioria dos países do mundo”.
Eles incluíram “crimes conhecidos internacionalmente, como genocídio e crimes contra a humanidade, cometidos pelas autoridades políticas e militares no poder naquele país”, acrescentou.
No passado, os tribunais argentinos abriram investigações sobre crimes em outros países, sob o princípio da “jurisdição universal”, inclusive para atos cometidos pelo regime de Francisco Franco na Espanha.
E em dezembro passado, um juiz ordenou a prisão do presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, por “violação sistemática dos direitos humanos”.
Nenhum dos casos ainda resultou em ação contra um cidadão estrangeiro.
Tun Khin, presidente da Organização Rohingya birmanesa, no entanto, recebeu a última decisão como um “passo histórico em direção à justiça para Rohingya e todos na Birmânia sofrendo sob os militares birmaneses”.
Foi “também uma vitória para a justiça internacional em um momento de crescentes violações do direito internacional em todo o mundo”, afirmou ele em comunicado.
Tomas Ojea Quintana, o advogado dos queixosos de Rohingya na Argentina, disse à AFP que o próximo passo será para que a decisão seja encaminhada aos promotores, que tomarão as medidas necessárias para a notificação da Interpol, que emite mandado internacional.