Em breve, pérolas poderão ser cultivadas nos mares europeus pela primeira vez, já que os produtores de ostras italianos buscam explorar uma oportunidade inesperada oferecida pelo rápido aquecimento do Mediterrâneo.

No final de 2023, os primeiros espécimes de Pinctada radiata, uma ostra perlífera nativa do Mar Vermelho, foram avistados no Golfo dos Poetas, uma área turística popular a cerca de 100 quilômetros (62 milhas) de Gênova, na costa noroeste da Itália.

Menos de um ano depois, elas estão proliferando naquelas que sempre foram algumas das águas mais frias do Mediterrâneo, normalmente associadas a outros tipos de ostras usadas como alimento e não como joalheria.

“Estamos estudando a possibilidade de produzir pérolas cultivadas aqui”, disse Paolo Varrella, chefe de uma cooperativa que cria ostras para alimentação na área desde 2011.

O grupo já entrou em contato com produtores de ostras perlíferas no México para obter dicas sobre técnicas de produção, disse Varrella.

“A Pinctada radiata foi relatada no Mar Jônico, ao redor da ilha da Sicília, desde a década de 1970, mas somente na última década ela se deslocou para o norte”, para os mares mais frios do Tirreno e da Ligúria, que banham o continente italiano ocidental, disse Salvatore Giacobbe, professor de ecologia na Universidade de Messina.

É a mais recente de uma série de espécies exóticas de águas quentes a entrar no Mediterrâneo à medida que este esquenta devido às mudanças climáticas.

Manuela Falautano, cientista do instituto italiano de pesquisa e proteção ambiental ISPRA, disse que essa tendência teve “um aumento exponencial” na última década.

Algumas dessas espécies são agressivas e perturbam ecossistemas delicados. Em alguns casos, como o baiacu manchado e o peixe-escorpião, elas também são perigosas para os humanos.

A extensão de 2,5 milhões de quilômetros quadrados (970.000 milhas quadradas) de água que separa o sul da Europa da África e do Oriente Médio está esquentando mais rápido do que a média dos mares do mundo, disse Falautano.

MUITO DINHEIRO

A produção de pérolas, mais associada aos atóis polinésios do que ao norte do Mediterrâneo, tem um faturamento global anual de 11 bilhões de dólares, e os produtores de ostras italianos estão ansiosos para lucrar.

Adriano Genisi, importador de pérolas há mais de 30 anos, disse que a Radiata pode produzir pedras preciosas semelhantes às famosas pérolas ‘Akoya’ do Japão, que têm um diâmetro de 5 a 9 milímetros e uma cor branca com tons de cinza, rosa e verde.

Se tudo correr bem, as primeiras pérolas poderão ser colhidas em cerca de um ano, disse ele.

O aumento da temperatura do Mediterrâneo também é responsabilizado pelo aumento de tempestades violentas, como a que afundou o iate de luxo do empreendedor britânico de tecnologia Mike Lynch na Sicília no mês passado, matando seis passageiros e o cozinheiro do barco.

Franco Reseghetti, pesquisador do Instituto Nacional de Geofísica e Vulcanologia da Itália, disse que medições feitas no Tirreno em dezembro, em profundidades entre 300 e 800 metros, mostraram as temperaturas mais altas desde 2013, e ele espera ver um aumento ainda maior neste ano.

“A enorme quantidade de energia por trás desse aquecimento pode atuar como combustível para fenômenos atmosféricos devastadores”, como a violenta tempestade que parece ter afundado o iate na Sicília, disse Reseghetti.

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