Um apagão deixou a maior parte da Venezuela sem energia na sexta-feira, o que as autoridades atribuíram à sabotagem da rede elétrica nacional — a mais recente crise a atingir o país rico em petróleo após uma eleição presidencial disputada.
A Venezuela sofre apagões frequentes, que o governo do presidente Nicolás Maduro rotineiramente atribui a conspirações não comprovadas para derrubá-lo.
“Estamos relatando que aproximadamente às 4h40 (08h40 GMT) de hoje, sexta-feira, 30 de agosto, uma sabotagem elétrica ocorreu na Venezuela… que afetou quase todo o território nacional”, disse o ministro das Comunicações, Freddy Nanez, ao canal estatal VTV.
“Todos os 24 estados estão relatando perda total ou parcial do fornecimento de eletricidade”, disse ele.
A pior paralisação nacional a atingir a Venezuela, em março de 2019, durou vários dias.
“É complicado se locomover sem eletricidade. Não sabemos o que vai acontecer durante o dia”, disse Anyismar Aldana, uma caixa de 27 anos a caminho do trabalho em Caracas, no bairro operário de Petares.
“As pessoas têm medo de que isso aconteça novamente (como em 2019).” Quando a energia acaba, “não trabalhamos, não sabemos o que fazer para conseguir comida”, acrescentou.
Regiões ocidentais como Táchira e Zulia, outrora capitais da indústria petrolífera, sofrem cortes de energia diários.
Bereniz Hernandez, 70 anos, morador de Maracaibo, capital do estado de Zulia, disse que houve quedas de energia diárias — quedas de tensão — “e esta manhã não havia mais eletricidade”.
O governo de Maduro acusou os Estados Unidos e a oposição política de orquestrar as falhas de energia.
Líderes da oposição e especialistas, no entanto, culpam a corrupção e a falta de investimento e conhecimento especializado pelas interrupções.
Na última década, a Venezuela passou por um colapso econômico sem precedentes que fez com que mais de sete milhões de venezuelanos fugissem do país, enquanto o PIB despencou 80%.
– Líder da oposição convocado –
“É uma nova sabotagem elétrica”, disse o ministro Nanez. “Sabemos o que nos custou em 2019. Sabemos o que nos custou recuperar o sistema elétrico nacional desde então e hoje estamos enfrentando isso com os protocolos adequados.”
Nanez disse que o governo colocou em prática “protocolos antigolpe” após o apagão, citando a recente eleição de 28 de julho — cujo resultado foi amplamente contestado.
Maduro foi proclamado vencedor, mas o Conselho Eleitoral Nacional (CNE), alinhado ao governo, se recusou a divulgar dados detalhados para verificar o resultado.
A oposição diz que seu candidato, Edmundo Gonzalez Urrutia, venceu a eleição por ampla margem, divulgando dados de assembleias de voto para respaldar essa afirmação.
Gonzalez Urrutia deveria comparecer perante os promotores na sexta-feira, sua terceira intimação após não comparecer nas duas anteriores.
O não comparecimento resultará na emissão de um mandado de prisão, disseram as autoridades.
Não ficou claro se esses procedimentos continuariam após o apagão.
Gonzalez Urrutia é acusado de “usurpação de funções” e “falsificação” pela divulgação de dados de resultados eleitorais pela oposição.
O candidato da oposição não disse se compareceria, mas acusou o procurador-geral Tarek William Saab de fazer acusações com motivação política e de não fornecer “garantias de independência e devido processo legal”.
Maduro já havia ameaçado prender Gonzalez Urrutia e a líder da oposição Maria Corina Machado, acusando-os de serem responsáveis pelos protestos e violência pós-eleitorais.
Pelo menos 27 pessoas foram mortas — incluindo dois militares — e quase 200 ficaram feridas, com 2.400 prisões, em protestos violentos desde a eleição.