A gigante das mídias sociais X disse na quinta-feira que espera que o tribunal superior do Brasil ordene seu fechamento, enquanto uma batalha judicial acirrada se desenrola sobre o cumprimento das leis locais e a insistência do proprietário Elon Musk de que a plataforma está sendo punida por resistir à censura.
A X disse esperar que o juiz Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, ordene o fechamento “em breve”, após o prazo imposto pelo tribunal para a empresa identificar um representante legal no Brasil ter expirado na noite de quinta-feira.
Pouco antes da meia-noite, X ainda estava trabalhando normalmente no país.
Mais cedo na quinta-feira, a Suprema Corte bloqueou as contas bancárias locais da empresa de internet via satélite Starlink, do bilionário Musk, enquanto a disputa subjacente sobre X a colocou à beira do fechamento em um de seus principais mercados.
As duas empresas fazem parte do vasto império empresarial de Musk, que também inclui a empresa de foguetes SpaceX e a gigante de carros elétricos Tesla. O bilionário é dono da X e de 40 por cento da SpaceX, e é o CEO da Tesla.
Em uma série de comentários na noite de quinta-feira no X, Musk atacou Moraes, rotulando o juiz de “ditador maligno” em um post recém-fixado. Ele também criticou a decisão de bloquear a Starlink como ilegal e alegou que a ação pune “indevidamente” outros acionistas, bem como brasileiros comuns.
Musk também anunciou que a SpaceX, controladora da Starlink, fornecerá serviço de internet gratuito aos usuários brasileiros “até que esse assunto seja resolvido”.
MENTIRAS E CENSURA
Assinada por Moraes, a decisão do tribunal de sancionar a Starlink é uma resposta à falta de representantes legais no Brasil para X, disse uma fonte do Supremo Tribunal à Reuters.
A decisão de congelar as contas bancárias da Starlink também decorre de uma disputa separada sobre multas não pagas que X foi condenada a pagar devido à sua falha em entregar alguns documentos. O jornal local Folha relatou que as multas totalizam pelo menos 20 milhões de reais (US$ 3,6 milhões), mas a Reuters não conseguiu confirmar o valor.
O Supremo Tribunal Federal estabeleceu um prazo para que X nomeasse seu representante legal no Brasil até pouco depois das 20h (23h00 GMT) de quinta-feira.
A lei brasileira exige que todas as empresas de internet tenham um representante legal no país que possa receber ordens judiciais e ser legalmente responsável pelo negócio.
A questão na disputa cada vez mais intensa é se Moraes pode ordenar que X bloqueie certas contas acusadas de espalhar mentiras e distorções, um pedido que Musk denunciou como censura.
A maioria das contas bloqueadas são administradas por apoiadores do ex-presidente de extrema direita Jair Bolsonaro, alguns dos quais negam que ele tenha perdido sua tentativa de reeleição em 2022.
Em uma postagem anterior, Musk reclamou que Moraes “é um criminoso da pior espécie, disfarçado de juiz”. A Starlink, em sua própria postagem, acusou o juiz de emitir a ordem secretamente, sem o devido processo legal.
JUIZ V BILIONÁRIO
As disputas digitais e legais cumulativas podem fazer com que a X perca um dos seus maiores e mais cobiçados mercados, em um momento em que Musk tem lutado com a receita de publicidade para a plataforma.
No início deste mês, a X anunciou que encerraria as operações e demitiria seus funcionários na maior economia da América Latina devido ao que chamou de “ordens de censura” de Moraes, mantendo seu serviço disponível para usuários brasileiros. Na época, a X alegou que Moraes secretamente ameaçou um dos representantes legais da empresa no Brasil com prisão se ela não cumprisse as ordens legais de remover parte do conteúdo.
Em sua própria crítica ao X, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva fixou uma publicação na plataforma na noite de quinta-feira, listando seis outras contas de mídia social, juntamente com links para elas.
Moraes ressaltou que empresas que não respeitarem as leis locais ou o sigilo de informações privadas poderão ter suas atividades suspensas temporariamente.
No início deste ano, o juiz determinou que X bloqueasse certas contas implicadas em investigações sobre as chamadas milícias digitais acusadas de disseminar distorções e ódio durante o mandato de Bolsonaro.
Depois que Musk contestou a decisão e disse que reativaria as contas no X que o juiz havia ordenado bloquear, Moraes abriu um inquérito em abril sobre os negócios de Musk.
Os representantes do X eventualmente reverteram o curso e disseram à Suprema Corte que ela obedeceria às decisões. Em abril, no entanto, Moraes pediu que a X explicasse por que ela não havia cumprido totalmente. Em resposta, os advogados do X citaram “falhas operacionais” que permitiram que usuários bloqueados permanecessem ativos na plataforma.
Em meio ao confronto de alto risco, muitos brasileiros recorreram ao X para fazer pouco caso da saga, incluindo milhares que postaram “memes” criativos destacando o juiz agressivo e o polêmico bilionário.
Alguns usuários do X criticaram a decisão assinada por Moraes, argumentando que ele estava minando a liberdade de expressão, enquanto outros ficaram do lado de Moraes, insistindo que Musk deve cumprir a lei brasileira.
O X, anteriormente conhecido como Twitter, é amplamente utilizado no Brasil e é um importante meio de comunicação, principalmente para políticos.